Como é confortável ao espírito
humano atribuir a outrem palavras duras, indigestas. Assim falava o fulano de
tal... Mas, por trás da pena, o dono da mão é quem fala. Ficar refém do que se
diz é um preço impagável certas vezes. Sujeitar-se a receber um rótulo por trás
do qual virá a ocupar um lugar de destaque no rol da fama ou conhecerá os ermos
áridos do ostracismo é, antes de tudo, um ato de coragem de quem se propõe a
escrever. É nesse contexto que me
manifesto. Em primeira pessoa. Falo, escrevo e vivo isso!
Vive-se na Era da Informação... Ou
seria do Conhecimento? Tenho dito que informação não é conhecimento. A Era do
Conhecimento nós, enquanto Humanidade, a temos vivido desde que estendendo a
mão, livre de grilhões ou cadeias, o homem tomou do seu fruto e alimentou-se
dele – do Conhecimento. O preço dessa escolha foi empreender uma busca compulsiva,
por mais e mais conhecimento. Ora, o fruto estava lá no princípio e foi apenas
colhido por alguém que não o plantou naquele lugar. E, crescia à sombra da
outra árvore, no centro do Jardim, cujo fruto era (e ainda é) a Vida. Acaso, a
boa mão que o tenha plantado justamente ali - e cuidado para que se tornasse
agradável aos olhos, como também o deveria ser o fruto da árvore vizinha - não
saberia igualmente apontar um caminho para o conhecimento que não lançasse o
homem em regiões abissais das quais não se livraria mais? A resposta é sim. Como
sei disso? Porque refiz o caminho e comi do outro fruto. Mas o homem, lá no
Jardim, não resistiu à tentação de se ver autossuficiente. Ser onipotente,
onisciente – o que mais poderia o homem querer para si? Talvez, nesse intervalo
de tempo, o vento tenha agitado com doçura os ramos da outra árvore, levando
seus frutos ao alcance da mão do homem como um convite à Eternidade, ao Amor, à
Liberdade e à Paz. Mas, seu coração, por inteiro, já havia sido tomado de
assalto. Então, procurou o homem, por seus próprios meios, ser igual ao Criador
do Jardim, o dono de todo o Conhecimento – já não lhe bastava mais a mera semelhança
com este. Triste sina!
Daqui a algumas gerações
perguntar-se-ão os jovens filósofos: quem é Platão, Sócrates ou Aristóteles diante
do nosso Conhecimento? Quem é Nietzsche ou Edgar Morin à luz do nosso
pensamento? Descartes e seu reducionismo, então, serão uma piada! Porque, de
tanto desconstruir-se e reerguer-se sobre seus antigos fundamentos, a Filosofia
e toda a Sociologia ter-se-ão dissolvido num denso lamaçal. E a profecia,
enfim, se cumprirá.
Eu, por minha vez, enquanto
leitora, prefiro Almitra a Zaratustra, cujo discurso parece interminável.
Note-se que me refiro a Gibran e a Nietzsche. E que venham os críticos de
plantão, pois que estou como quem compara melancias com romãs! Que me importa!
Quero falar de fontes. Fontes de onde provém o Conhecimento. Então, que venham
Gibran e Nietzsche com seus profetas! Posto isto, vamos às fontes. Porquanto
não é recomendável nem sensato dissociar de seus escritos a pessoa do autor. De
fato, pode ser um o que se apresenta no papel e outro o dono da mão que lhe dá
a voz, mas convém que o leitor procure a procedência das palavras, a fonte. Porque
o escrever se torna tarefa demasiadamente fácil quando não se tem a intenção de
comprometer-se com o que se coloca no papel. Principalmente quando se trata de
Profetas! Fácil é dizer: “façam o que eu digo!”. Azedume ou doçura, um e outro
lançado no papel, silencia diante do que o viver propaga a plenos pulmões. O
que há na fonte de águas amargas - será veneno? E de onde jorra tanta água doce-
estaria incontaminada? A água boa para o consumo humano necessita ser insípida
– nem amarga, nem doce. Sobre qual fonte o leitor desavisado estaria se
debruçando?
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Sede por Conhecimento? Vá até a
Fonte! Simples assim. O leitor talvez ainda tropece no manto do sábio Almitra
que vai errante pelo caminho. Mas Zaratustra, este morreu desidratado. Coitado.
Autoria: Mirna Cristiane Cases
Notas:
A inscrição “Se
alguém tem sede, venha a mim, e beba” encontra-se na Bíblia, em João 7:37,
declarada por Jesus, o Cristo.