Eram dois dias do mês de agosto
Dez dias
depois deu no jornal:
“Jovem que
teve as mãos decepadas perdoa seu agressor”
Agressor é
eufemismo: mídia, que desgosto!
A palavra
certa é Psicopata:
mais da
metade dele, na verdade, é criatura
incerta
Mas ela diz
que acreditava no Amor,
que o Amor
mudaria o coração do amado
- do
Psicopata amado por ela
Mas não mudou:
logo se vê
E até já se via:
porque vez e outra, o pau comia
Vizinhança bem sabia
Vizinhança bem sabia
A moça revidava, mas nem doía.
Era só a
carcaça, aquele couro vazio, que riscava.
Não
funcionava, não.
Veio, então, lá de
dentro
ele com um facão
ele com um facão
Primeiro
abriu a cabeça dela,
Depois lhe
torou pés e mãos.
E, julgando
que estava morta aquela
que tantas
vezes insistira em Amor
foi ele
agarrar-se à mãe como guri desmamado
Nisso quem sabe
alguém teria perguntado,
como é próprio da gente comum,
culpabilizar adivinha quem...:
culpabilizar adivinha quem...:
“O que teria feito ela de ruim
para que ele perdesse a cabeça assim?”
para que ele perdesse a cabeça assim?”
[Como se
Psicopata precisasse de pretexto]
E enquanto a sociedade se debruçava
e debatia-se no extenso labirinto
midiatizado das emoções insanas
e debatia-se no extenso labirinto
midiatizado das emoções insanas
Outros tantos jovens devorados
eram no maldito matadouro
eram no maldito matadouro
M Cristiane Cases, 19/08/2015
Reação imediata da autora à notícia divulgada pelo jornal:
"Jovem de 22 anos teve mãos e pés decepados após briga com homem.
Reação imediata da autora à notícia divulgada pelo jornal: