quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cris Cases escreveu:

Ig -no -mí -nia
Seria necessário o máximo de paciência para aturar um mínimo de obscurantismo gratuito, grosseiro, gravíssimo - e porção extra de decência para não resvalar na lama dos vocábulos torpes (esses que se pronuncia por entre os dentes). Longe de pedantismo: isso é a mais pura indignação! Passa longe de todo esse brilhantismo beatificante e belicoso das ideologias de esquerda... Aliás, onde a esquerda mesmo? Ademais, não é este um discurso do tipo rosaluxemburguês.
Ignomínia
Que não me venham com rótulos reducionistas, porque, no meio da agonia, quem foi abatida e mesmo assim se levantou no campo ignorado da misoginia, tem nome e sobrenome. Este é, pois o grito do centro do meu peito de mulher, esmagado com a dor de tantas outras que viveram (e morreram) antes que eu pudesse despertar com o alerta. Que não tardio vem. Não tardio vem.
Ignomínia
E chega traspassado dessa dor de só ser do gênero que o respirar já é ofensa a este que agride. Covardia! Por medo: ele agride, e cerceia, e vasculha, e escolhe mil palavras brutas, e grita “vadia” querendo dizer outra, e rebaixa, distorce e humilha – sem sentir o efeito daquilo que provoca na legítima companheira. Esta, que a despeito de tanta fúria, pondera, espera, ora, se revigora. Para se ver novamente cercada de flores e favores. Eu sou do meu amado, diz ela. Mas, no fundo, esses são só vetores por onde se recompõe o amante – que é amado, mas nunca jamais a amará. Porque disso é incapaz. Dentro dele há um tirano, um déspota a odiar continuamente.
Ignomínia
 Na proporção que esta mulher se levanta do pó da própria ruína, este homem a quer devastada, terra arrasada, com ódio consumidor. Mas ela é fonte que não seca. É água que contorna a pedra. Ela é feita de amor e um ventre. Aí reside toda a sua força. Foi assim que eu fui feita. É, pois do centro do meu peito que sai esse fogo. Que apaga toda a dor.